Já faziam semanas que o Palma andava a "melgar" o pessoal para ir numa brincadeira no semi-rígido dele. O pessoal tem recusado pois temos nos safo de terra e claro a loucura dos robalos ao spinning tem deixado todos retidos nessa pesca, deixando as outras para trás.
Resolvi aceitar o convite dele, nem que fosse para dar um passeio de barco, coisa que adoro! Como andamos em fase de testes pela zona, levamos material para diversos tipos de pesca, embora tendo 2 que eram o nosso foco.
Assim foi, marcámos a pescaria, e na 6ª feira passada lá estava eu ás 5 da manhã à porta dele, arrancámos directo a Cova do Vapor, parando pelo caminho apenas para um cafézinho.
Chegados ao local ainda estava de noite e resolvemos aguardar para pôr o barco na água...
Eram perto das 7 quando já com alguma luz começamos a tratar do assunto, mas... sim vai começar toda a aventura!
A rampa pequena da Cova do Vapor é muito íngreme e tem a partir de meio muito limo( verdete) e o Palma tinha pouco cabo para conseguir fazer descer o atrelado... Ainda tentámos mas o que ganhámos foi alguns sustos e muito exercício físico. Nada feito. A água, mercê das marés serem de grandes amplitudes desceu a uma velocidade furiosa e quando tínhamos o problema resolvido, já não existia água... Bem o desespero... O Palma estava mais lixado que eu, que ia lhe dizendo para manter a calma, que nem sempre as coisas correm bem, e é nestes dias que temos que aprender... Aliás tal como lhe disse os grandes pescadores aprendem em todos os momentos, devemos tirar ilações do que estamos a fazer. Neste caso, era do que não estávamos a fazer... Pois continuávamos em seco...
O Palma olha para a rampa larga, a dos pescadores e dá-lhe uma ideia... tentar ir por lá. Pergunta a um senhor se a areia era rija, e este diz que sim... Bem eu tive as minhas dúvidas, mas ele resolveu tentar, e realmente andámos bastante com a areia bem consistente... mas... pois já estão a ver não é... quando estávamos perto de água eis que o atrelado entra num buraco da areia, e ... atolados... carrinha com 1ª metida e vai disto... mas nada... estava difícil... Vai de cavar e tentar deixar a roda do atrelado solta... Prova superada. 1ª de novo e ufa... lá saiu o atrelado. Uns metros a frente, e marcha atrás... 2ª tentativa... e novamente atolados, desta foi a carrinha... rodas da frente com areia até ao topo, carro a derrapar, e nada feito... com atrelado atrás, nem marcha atrás dava para fazer. Enquanto o Palma desenterrava as rodas eu fui procurar tábuas... E fui dizendo ao Palma para sairmos dali antes que a coisa piorasse, pois se a maré virasse íamos ter problemas bem mais graves, felizmente estava ainda no inicio da enchente... Num instante fomos do sonho de uma boa pescaria ao pesadelo de nem saber se iríamos sequer ao mar...
Ao fim de uma luta entre nós e o terreno lá conseguimos tirar o carro. Vai de subir a rampa rápido e sair dali... Prova superada. O Palma estava desgastado, notava-se que sim, até mais por mim, com algum receio que eu estivesse chateado... Sinceramente não estava. Epa, são cenas que podem acontecer, não deviam, mas acontecem, e torno a dizer... ele aprendeu a lição e eu também. Ele não tinha ainda posto o barco por ali e aprendeu da pior maneira quando e como o pode fazer.
Mais uma vez ele começou a perguntar se eu queria ir embora, mas eu não estava nessa... Se já lá estava então mais valia aguardar que a maré subisse um pouco e pescar umas horas... Fomos então beber mais um café e esperar que a maré ganhasse corpo... E assim foi, perto das 10.30 começamos a preparar o atrelado e a descer a rampa... e desta com uma relativa facilidade conseguimos...
Assim que saímos levámos com uma carneirada das tramadas, parecia que estava no Cabo Espichel, o barco sempre aos saltos... Mas não tinha sossego? Xiça... Que dia... Estava um gajo com tanta ilusão...
Saímos em direcção ao bugio para lançar uns pingalins e pescar ao corrico... O Palma escolhe o local, começa a tirar as montagens e eu vou desenrolando os pingalins... mais um erro... eles vinham todos ao molho... e claro estavam na sua maioria enleados, lá foi mais meia hora naquilo... Finalmente, perto do meio dia tínhamos alguma arte na água... Demos uns metros, fomos a rola para o barco fazer o serviço e pôr os pingalins a trabalhar, mas nada... De repente vemos um barco ao longe e com a velocidade que vinha podia passar por cima e cortar a nossa arte . O Palma acelera de modo a tentar safar a arte, e lá consegue, mas a mudança brusca de direcção fez com que alguns dos pingalins enrolassem na madre... Lol, sim podem-se rir, parece um episódio dos apanhados... Vai de tentar desenlear os pingalins, mas alguns estavam mesmo muito enrolados e resolvemos deixar estar e pescar com os restantes...
Resolvemos ir experimentar para os lados da Costa da Caparica, mas o mar estava realmente complicado e lá apanhei uma grande molha a passar o quebra mar, o esporão da Cova do Vapor, fiquei um "pinto". Chegados lá o mar continuava complicado, mas resolvemos tentar de novo o corrico, mas sem qualquer efeito... nadinha.
O Palma estava desiludido, dava para perceber, eu cá estava calmo, mas só pensava, como é que vamos safar esta pesca? O que é que pode correr mais mal hoje? Só se formos ao fundo...
Resolvemos ir de novo para o rio... e torna de passar a zona do quebra mar, que estava mesmo muito encrespado. Mais um banho daqueles, já estava a escorrer... Já me ria sozinho...
Passada a fase complicada... o mar ficou um pouco melhor e parámos... O Palma olha para mim e diz-me " o que fazemos? Queres ir a pesca de escama ou ir a procura de algum polvo?"... Eu ponderei e disse " vamos aos polvos". Como eu adoro polvo, olha, pior do que estava a ser era impossível...
Passa um barco por nós de pescadores da zona e metemos conversa... o senhor muito amável, disse:
" venham atrás de nós"... E lá fomos... chegados ao pesqueiro vai de armar as piteiras e meter uma sardinha... e zumba lá para baixo... Fui vendo alguns pescadores tirarem uns polvos ainda nem eu tinha a minha armadilha terminada... Bem, finalmente consigo com a ajuda do Palma e começo a tentar perceber o que é ter um polvo na linha... O Palma tira finalmente o 1º exemplar do dia as 2 da tarde e fiquei alegre... epa, fiquei, já nos tinha acontecido tanta coisa que aquilo era um bom sinal... Mais 5 minutos e o Palma tira outro, eu nadinha...
A minha piteira fica pesada, faço força a julgar que era um bom polvo, mas estava presa... 1º piteira perdida... Diz-me o Palma... só temos 4... Mau... Pensei logo, logo agora é que ficamos a rasca de material...
Segunda montagem, finalmente sinto peso na linha, puxo, puxo, e eh eh eh, um polvinho... Vai para baixo e logo de seguida um polvo jeitoso... Espectáculo... Que satisfação.
De repente começamos a ver os barcos todos a subirem pelo rio, para zonas mais fundas( estávamos a pescar a 5/6 metros)... e foi uma autentica romaria como a música "follow de leader" , e barco atrás de barco todos subiram o rio, para os 20 metros... onde claro, as nossas chumbadas não chegavam e só tínhamos 1 de 500 gramas, logo a pesca estava de novo complicada... vai de meter 2 chumbadas de forma a garantir ao menos as 400 gramas... Mas a corrente era muita, e perdemos mais 2 piteiras...Restavam 2 apenas...
Num espaço de 30 minutos apanhámos um monte de polvos sempre a bombar, já me doíam os braços...
A corrente ganha força, a minha linha enrola toda... dá-me a volta à mão e faz um nó entre dois dedos, com a força da corrente, estrangulou-me os dedos, e foi por um triz que não os parti, estavam já no limite, quando o Palma me veio ajudar... Dedos soltos, muitas dores, e ups... O Palma largou a piteira e lá foi ela pelo barco fora... Que tristeza... O Palma com o a vontade que o caracteriza foi de barco em barco a pedir uma piteira, e lá lhe safaram uma, já iscada e tudo. O nosso obrigado aos pescadores que lá estavam, foram impecáveis.
Uma grande pescaria. Uma iguaria fenomenal. |
E durante mais uma horita ainda ali ficámos a apanhar mais uns polvos, até que o pessoal começou a desertar e como anoitece cedo nesta altura, fomos também embora... A pesca estava feita... Felizmente por entre tanta coisa que nos aconteceu, conseguimos ter um pingo de discernimento e deixar para trás a ilusão de uma pesca para a qual não estávamos preparados para fazer uma que na realidade para as condições que tínhamos era a possível e a mais lógica.
Parabéns ao Palma, pois foi incansável... Cometeu erros próprios de quem está a começar, mas soube sempre dar a volta por cima, e a nível de navegação esteve muito bem. Foi um dia acreditem bem passado, daqueles em que damos valor aos homens que andam ao mar... Sofre-se muito pessoal, frio, vento, o mar sempre a bater, acontecem por vezes imprevistos... é uma luta heróica a que alguns dias se tem no mar.
O Palma com os Polvos que apanhámos. Alguns de bom porte. |
Ainda tirei umas fotografias ao Palma com alguns polvos, uma excelente pescaria, uma iguaria das melhores que temos... Que belo polvo a lagareiro e arroz de polvo vou eu fazer... Até breve pessoal, voltaremos a carga assim que tivermos tempo...
Espero que gostem, foi sem dúvida um dia diferente, uma pescaria tão difícil, e no fim quando se olha e se vê o saco completamente cheio após tanta confusão, imaginem o quanto nos sentimos realizados.
Filipepc.
Atenção que a piteira é um utensílio de pesca profissional, e para tal é necessário licença, logo não pode ser utilizada em embarcações de recreio.....
ResponderEliminarAtentamente,
Amaral
Boa tarde Amaral... Isso não é bem assim... A lei proíbe a utilização de Piteiras com mais do que 3 anzóis para os amadores. Estas, com 3 anzóis podem perfeitamente ser usadas, desde que sejam maleáveis, ou seja, não sejam de pau ou de aço. Existem a venda piteiras para a pesca desportiva.
ResponderEliminarCumprimentos.
Grande aventura malta!
ResponderEliminarForam muito bem recompensados no fim da jornada...esses polvos deixaram-me com água na boca!!!
Um abraço para vocês!
Rui Louraça
Grande Rui, tu só queres robalos e deixas passar as outras pescas, lol.
ResponderEliminarFazes bem pa... Ja sei que apanhas-te um na semana passada. Parabéns. Abraço.
Apanhei um, o primeiro da temporada.
ResponderEliminarFiquei contente!
Depois falei com o professor...fiquei em depressão!
Hehehehe...
Tens razão amigo, antigamente ainda pescava ao fundo e bóia...mas agora já não consigo!
Spinning é uma doença!
Abraço
Rui Almada
Grande Filipe, essa pesca parece aqueles videos do Youtube daquele trapalhão eheheheh.
ResponderEliminarMas safaste-te foi muito bem, belos polvinhos.
Um abraço e vê lá se me convocas pra uma pescaria