quarta-feira, 22 de agosto de 2012

( Aqueles grãos de areia) O Papel principal dos outros é o meu momento.



Cansado:

Uma semana inteira de trabalho, dias muito agitados, e claro pouco tempo de descanso. Nos últimos 15 dias não tinha pescado e por isso sentia muita necessidade de ir ao mar. Faz parte da vida, os momentos em que nos encontramos connosco próprios...

Pensativo:

Esta semana foi deveras complicada. Na vida todos temos apenas uma única certeza, e é dessa que tentamos fugir!
Sei que é injusto pensar da forma que por vezes penso, mas quando vemos partir alguém que nos é querido, ou quando vemos pessoas que tanto gostamos a prestes a viverem momentos complicados, é natural que pensemos em qual será o sentido da vida?
Qual é afinal o sentido? Que caminho será este afinal em que tantos dias atropelamos quem nos aparece à frente? Valerá a pena?
Não vos sei certos dias responder. Sei que muitos dias, por mais em baixo que possas estar, por mais desanimado, uma palavra, um gesto, um olhar, de alguém que estimamos, muda tudo, altera todo o processo em que cegamente acreditamos.
Nesses momentos, parece que bebemos algum elixir, algo que nos transporta para outra galáxia, as dores desaparecem, o mau astral esfuma-se por entre as cortinas que nos tapam a verdadeira realidade da vida.
O que posso dizer, ou melhor, de que forma posso olhar quem perde uma mãe e dizer-lhe algo que  conforte? Como posso olhar um primo e dizer-lhe que tudo o que se está a passar vai correr bem? Como posso eu deixar de ser egoísta e me lembrar que o papel principal não é meu?

A sensação de que és pequeno, ínfimo, acontece quase sempre nestes momentos...
Vou a um pontão, vejo dois tipos a refilarem por as linhas estarem enleadas, vejo outros dois a discutirem pois cada qual está no local que o outro queria estar para apanhar mais peixe, e sentado enquanto o sol me bate nos olhos penso.
Fecho os olhos e penso... Enquanto uns discutem mesquinhices, outros passam os piores momentos da sua vida, vivem momentos que não escolherem, sentem dores, que nenhum lançamento pode curar.

Encho-me de ar... e respiro fundo. Desanimado entro no carro e vou para casa, o dia estava longe de terminar.

Uma espécie de força:

Talvez seja para muitos um momento difícil, aquele em que temos que olhar nos olhos de alguém que perdeu um ente querido e dizer algo que os conforte, quando naquele momento, qualquer gesto, qualquer toque vale, muito, mas muito mais do que podemos acreditar.
O desamparo que se sente, é indescritível, o transe em que entramos, é penosamente profundo. Mas o conforto que sentimos passa muitas vezes, por acreditarmos que algo ou alguém nos segurará, que algo ou alguém estará ao nosso lado e tentará preencher o buraco fundo que ficou. Nem em todos os casos isso é possível.

No mesmo dia da semana passada recebi, duas notícias que me deixaram nesse tal estado.
O meu primo Marco, estava com umas febres esquisitas.
Febres que se revelaram algo mais...
Nessa mesma altura o Álvaro e a Mila, pessoas chegadas à nossa família tinham um acidente de carro que foi fatal para a Mila. De que forma iria dividir as energias? Onde as ia buscar? De que forma as conseguiria transmitir?
Passado o choque seria hora de enfrentar o momento. Ao entrar na Igreja vi logo o Álvaro, e dei-lhe um forte abraço e senti aquilo que vos disse acima. Naquele momento, os segundos em que sem nada dizer, os abraçamos valem para eles tudo. Eu sei isso. Porque eu também já o vivi.

Doeu-me ver a cara dos filhos, custou-me sentir que o percurso deles fica marcado tão cedo.

Nesse momento lembrou-me de algo que uma pessoa amiga da minha família disse tinha eu cerca de 16 anos, no funeral do meu tio Zé. Ele perante o desespero e a dor do meu avô pela perca do seu irmão mais chegado disse-lhe " Manel, chora os mortos, mas lembra-te de cuidar dos vivos".
Provavelmente somos muito das vivências que vamos percorrendo e das pessoas com quem vamos partilhando momentos.

Esperei pelo fim da missa, sempre a pensar neles, e quando esta terminou, levantei-me e fui fazê-lo.

Quando cheguei ao Hospital, o meu primo andava pelo jardim. Aí ficámos, aí falamos, rimos, aí tentámos viver.
Marco, o primo adora-te. Sei que este ano não foi fácil para ti, sei que ainda deves viver a dor da perca da tua mãe, sei que com 28 anos não tinhas que viver isto agora. Mas eu acredito que provavelmente essa febre pode ter sido um sinal. Tu és forte e muito calmo, e vais ultrapassar tudo. E eu vou estar cá para te acompanhar. Aliás vamos todos.

Prometi-te isso, e prometi que te apanhava um exemplar para uma jantarada( ainda não pensei como é que vou apanhar uma vaca ou ou boi à pesca, visto que não gostas de peixe, lololol, mas o primo vai se lembrar de algo)... Olha um coelhinho serve? Já apanhei coelhos em jornadas de pesca, lololol.

Se não resultou primo o que queria era passar uma espécie de força nestas palavras. Gosto muito de ti. Força.

O dia depois do amanhã

Como será? É nisso que a minha mente pensa neste momento...
Por entre a dúvida do momento, tive a confirmação de dois grandes amigos, que a pesca marcada se iria realizar. E a saudade que sentia e sinto de pisá-la, trouxe-me força, energias. Fez-me ganhar vida.
Aliás a vida é isso mesmo. O momento.

Talvez aqui eu consiga começar o relato...

Esta era uma semana em que a pesca seria uma terapia ainda maior do que aquela que já representa para mim.
Um sim do Guilherme, do Luís Amaral e do Filipe João, e estava reunida uma equipa do melhor. Amigos e pessoas com quem adoro pescar e partilhar momentos. Amigos do peito. Todos eles.

Este seria o meu dia depois do amanhã. Como será o deles?

Aqueles grãos de areia...




Talvez por todos os motivos possíveis o local escolhido só poderia ser um. Teria sempre que ser ali.
Porque será tão diferente para mim? Porque razão me sinto tão diferente ali... Porque razão aqueles grãos de areia são diferentes?
Sim é isso, porque para mim eles têm um significado provocado por vivências passadas, que para outros não têm, que para muitos nunca terão... Mas eles têm... Podem crer que sim.

Assim que fui à janela de minha casa e vi toda a equipa à minha espera... Soltei um sorriso.
Desci rápido, e fui todo o caminho feliz da vida, faltava pouco para o reencontro.
Este não é um mês bom para se pescar por lá, mas eu não ia propriamente à pesca, eu ia partilhar, eu ia viver, eu ia recarregar... Energias, forças, sei lá...

O sol magnífico que o dia apresentava, antevia um excelente dia de convívio...
Já perto do meio dia ia se dar o início do momento. A minha super Balística estava pronta. E as CTS deles também... Canas que tantos momentos me deram na vida... A maré, começava a galgar metros... E rapidamente começámos a sentir toques... Um sinal que não gosto nada, apareceu... douraditas bébés... Não fiquei nada animado com isso, mas de seguida o Guilherme saca um robalo jeitoso, e lá alegrámos, enquanto se ia soltando as douradas... Ali num instante apanhou-se umas 10.
A força da água obrigou-nos a recuar muito, e estava na hora de mudar de local, para um que eu conheço bem e me deu já muito peixe.
Lançamentos, e lançamentos e só peixe miúdo... Bem, o que valia era aquele grupo, era só rir, muita palhaçada... Muita galhofa.

Mais uns lançamentos e os toques desaparecem... Diz o Guilherme... olha nem os pequenos agora... E eu sorri...
É que estas coisas não são ao acaso... O que acontece quando estão num local cheio de tainhas e de repente do nada elas baixam..., lol. Pois, os predadores entraram...
Então porque terá o peixe miúdo desaparecido? Claro...

Restava aguardar... Lá me decidi a fazer o que o instinto me mandava... Aumentei o tamanho das iscadas, e pus o ganso pela linha de forma a dar melhor apresentação... E a minha cana deixou de fazer trrrrr, trrrr, trrrr, e passou a fazer pequenos movimentos como se fosse um caranguejo a ratar o isco... E agarrei nela, e senti o que milhares de vezes já senti, e dei-lhe ferro... A ponteira marcadora da balística verga e finalmente elas estavam por lá, finalmente apanhava o que fui à procura.
Gradeiro, gradeiros, gradeiros... EHeh eh eh eh, lá começava a galhofa o gozo entre todos...
Rapidamente o Luís ferra uma dourada, e o Guilherme outra... Todos tinham atingindo o objectivo...
Guilherme sempre vais vender a Potenza? Compras uma Balística, lololol...

O entusiasmo era tão grande que me passaram dias e dias de pesca pela cabeça. Momentos em que vivi coisas que muitos não poderão jamais sentir. Dias de pesca que hoje em dia na pesca lúdica apeada são quase ilusões. A maré essa galgava metros e nós estávamos no limite... Mais uns minutos e teríamos que recuar...

Mais uns minutos e muito poderia mudar... Lançámos o mais longe que conseguimos, elas estavam longe e manhosas... Alguns bons toques sempre sem sucesso, até que finalmente eu e o Guilherme sacamos mais duas seguidas, e ficámos logo todos satisfeitos. Restava fazer o último lançamento...
O Luís esse persistia em lançar para o quintal do vizinho e ora à esquerda, ora à direita ele tentava bloquear a nossa pesca, lololol.

Canas nos ferros e todas a bater... Um linguado para o Luís, uma dourada para mim, e a do Guilherme devido ás 3 canas terem enleado acabou por se soltar... Bem a pesca estava minimamente feita...

Eu conheço bem aquelas areias, e sabia que a partir daquele momento, depois de sairmos dali, pouco ou nada ia apanhar... Ali está a essência.

Esquadrão gradeiro

A fome também apertava e estava na altura de ir recarregar energias com o almoço e um cafézinho do Guilherme.


A fome era negra... Lololol. Estava uma maravilha!

Segue a pesca?... Vêm... Aqueles grãos de areia, conseguiam por esta altura me deixar distante do resto. Ali estava como numa bola de vidro. Por esta altura lembro-me que estava completamente longe dos problemas, das coisas menos boas. E isso não tem preço. Tudo tem o seu tempo, e nestes momentos o melhor que nos pode acontecer para recarregar é sermos só nós e a natureza.

Bem, terminado o almoço estava na hora de tentar mais um pouco...

Rapidamente tentámos usar cada qual um isco diferente de forma a termos um leque de opções superiores.

Mas apesar dos nossos esforços e insistência apenas peixe miúdo saía, entre os quais fomos capturando quase todas as espécies do rio... Sargos, safias, charrocos, choupas, douradas, robalos, linguado... Até que levo um toque pequeno e ao recolher sinto muito peso... Ao chegar a terra pelo trabalhar julguei ser um linguado, mas era um ruivo, um peixe delicioso que muito comi em pequeno e que parecem de volta a estas bandas... É um peixe bonito e delicioso.

Durante as últimas 2 horas de pesca apenas saiu mais um bom peixe, capturado pelo Guilherme... E o Filipe João andou a lutar com um robalãooooo que no final de contas era mais um tainhãoooo, lololol.

Já de noite, e com alguma pressa nem tirámos as fotos em condições, mas porque o dia foi magnífico, porque juntei três grandes amigos, não quis qualquer protagonismo. O que eles me deram foi mais que suficiente, e num dia tão bom, os tais momentos que tive valem por muito. Não têm mesmo preço.
O papel principal não foi meu, foi daqueles que me fizeram sentir bem. A eles obrigado pela companhia. Espero por vocês em breve, novamente por entre aqueles grãos...

Guilherme e Luís Amaral- Gang da Grade

Quero dedicar este relato às pessoas a que me referi acima. Um abraço forte a todos.
Que o dia depois do amanhã vos permita pisar aqueles grãos de areia mais vezes... Que estas palavras vos sirvam como uma espécie de força para o que vem aí.

Material: 
Canas: Hiro Super Balística; Hiro Long Distance; Hiro CTS; Hiro Propello
Carretos: Shimano Ultegra xsb 5500; Shimano Nexave 8000; Banax Poseiden 5600; Shimano Super Ultegra 1000; Tica Scepter
Linhas: Asso Fluorolight; Asso Ultra
Iscos: Ganso nacional, Casulo da Ponta do Mato; Ganso Coreano; Minhoca; Longueirão

Filipepc, Guilherme, Filipe João, Luís Amaral

7 comentários:

  1. Muito bom,

    Faz-me sentir uma inveja saudável.
    Filipe, temos de ir a um spot daqueles que tu adoras, no fds penso ir, diz qq coisa.

    Um abraço

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  2. Bom dia Sr. Filipe, enquanto leitor do vosso blogue, quero deixar um forte abraço de força a quem o faz.
    O blogue é fantástico, e os relatos são os melhores que se vêm pela internet. Muitos dias fico deliciado a ler e reler o que escrevem. Pescadores poetas. Obrigado, para mim são uma companhia e referência. Continuem a brindar os pescadores com esta qualidade.
    Sobre este relato, fiquei sem palavras. Muito obrigado. Mário.

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  3. Boas grande filipe,acho que és,melhor escritor do que pescador,já li o post 3 ou 4 vezes e há sempre algo de novo que retiro do texto,mas como de vez em quando também apanhas uns peixes,podes te deixar ficar pelas duas artes,lol,grande abraço amigo.

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  4. Fantástico relato miúdo, é sempre bom visitar o blogue e ver os teus relatos e pescarias.
    És grande amigo.
    Um abraço David.

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  5. Magnífico Filipe. Adorei o relato. E tenho muitas saudades desse local. Que saudades... Que pescas fizemos aí, lol.
    Gonçalo.

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  6. Olá Filipe.. excelente relato de vida! A pesca serve de alivio da dor de alma, que muitas vezes nos incomodam. Como sabes e fruto daquilo que faço, contacto todos os dias com a cueldade da MORTE e desde cedo aprendi a viver e conviver com essa realidade.. a pesca é sem dúvida uma panaceia.

    Forte abraço para ti amigo Filipe e para todos os que te rodeiam e precisam de ti forte e mentalmente saudável.. pesca muito!

    Abração

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  7. Excelente relato amigo,pois expressa o ser humano que és..:-)
    Um grande abraço para todos os gradeiros e que estes momentos perdurem pela eternidade...

    Luis Malabar

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