quarta-feira, 24 de abril de 2013

( Bóia) Sargos à boia na Costa da Caparica


Bem, 3 semanas após uma paragem de pescarias, devido ao mau tempo que teimava, sempre, mas sempre no dia em que estava de folga, eis que uma aberta e um telefonema de alguém por quem tenho uma amizade profunda, me fez tirar o dia, e rumar a uma pescaria.

Tenho dito que não sou eu que escolho as minhas pescas, é o mar e o clima, ou seja, a natureza que me diz onde devo de ir. Por vezes a natureza engana-se, por vezes eu não a compreendo!

Bem, na realidade, o que o WINDGURU marcava não me cheirava a nada... Ou a quase nada...
O dia maraca mar de Norte, e de apenas 2 metros, o que na Costa ocidental é o mesmo que encontrar uma piscina em zonas arenosas.

Com estes dados, ir à praia estava fora de questão... Bem, então o que fazer? Spinning? Águas limpas, era o que tinham me comunicado os meus companheiros de pesca... Ir ao Rio? Naaa, muita água doce, pouco peixe, e olhando para tudo isto, cheguei a uma simples conclusão... Temos que ir para a pedra!

O sacana a rir-se para nós...

Depois comecei a pensar, e o Guilherme, diz-me porque não ir fazer uma boiada? Bem... analisei novamente ao pormenor tudo... E vi logo que tínhamos que ir cedo, pois o dia ia estar com algum sol, e as água não estavam totalmente tapadas, mesmo junto a rocha...

A minha ideia era que se desse algo, e estamos ainda a alguma distância da melhor altura deles aqui na zona, era simples: No período lusco-fusco aproveitar a pouca luminosidade, pescar muito fino, chegando ao 0,18mm e tentar apanhar alguma coisa...

Eu estava longe de imaginar que e tudo o vento ia mudar!

Bem... Agora tinha outro problema. Eu não tinha tempo para ir apanhar caranguejo... E isso desmoraliza-me... Também não tenho eu casa, nem congelados camarão do rio, e não podia ir apanhar...
Era ir com o que tinha em casa e com o que o Guilherme arranja-se... No final de contas conseguimos, Batata, Navalha, Casulo pivete, camarinha anã, e alguns mouros capturados no local...

O despertador tocou eram 6.40 da manhã e embora os lençóis polares estivessem magníficos, lá me levantei e meio zombie fui preparando todo o meu material, e quando saí de casa, o Guilherme ligou-me a dizer que já lá estava... Num instante me pus lá, pese embora o já algum transito que se começava a denotar. Quando cheguei, resolvi ir tomar um café... E já estava a caminho do Pesqueiro quando se fez um clic... E fui ver a licença... E ainda bem... Tinha terminado à uns dias, e lá tive que voltar atrás e ir tirá-la... Não vale a pena arriscar, normalmente quando estamos em falta é quando nos calha a nós...

Já com a licença, fui ter com o Guilherme... Ao chegar fui analisar as águas e estavam um pouco tapadas, ligeiramente oxigenadas, e isso era um sinal positivo. Nada demais, mas ao menos não estavam abertas.
Falamos e foi unânime que tínhamos até o sol subir para apanhar alguma coisa, caso lá andassem...

Enquanto montava a cana, com toda a calma do mundo, fui falando com ele, e fomos pondo o "papo" em dia... Como estavam os filhotes dele, como têm sido estes dias, enfim, conversa de amigos, o normal. E o quanto especial é poder ter uma simples conversa com alguém com quem temos total confiança e uma profunda amizade.

Já de cana montada, passados tantos meses, senti-me tãoooo bem. Há quanto tempo não fazia uma boiada, que saudades... Que bem que me soube tornar a tocar numa cana destas.

Os poucos pescadores da zona estavam descrentes, nota-se claramente que o pessoal anda desanimado, seja pelo Inverno rigoroso que temos tido, seja pelo pouco peixe que este ano deu para o pessoal...
O Buldo matinal tinha poucos activos e não vi sair nada de jeito. Aliás não vi tirar um peixe, pelo menos que reparasse.


Com tudo isto resolvi ir com calma, muito tranquilo até porque não estava à espera de nada de especial. Tinha ideia de apanhar um ou outro sargo, mas como o objectivo era apenas pescar após tantos dias parado, aproveitei para saborear o mar e toda a sua beleza e tranquilidade... Impressionante, passados tantos anos, como ele me cativa e encanta, tal qual quando era um menino. Só de ver os outros pescarem sinto-me bem, sinto-me vivo. As ondas a baterem nas rochas, aquela espuma momentânea, incrível... Renovo-me a cada Set que observo ao longe...

Enquanto observava o Guilherme a pescar, fui bebendo cada "dica" que o mar me dava e fui observando cada buraco daquela zona, tentando perceber onde iria começar a minha pesca. Existem 4 spots ali que dão bom peixe, cada qual tem as suas características e momentos...

Comecei logo a pescar fundo, como eu gosto, sempre a "beijar" a rocha. Usei estralhos 0,23mm fluorocarbono, e rapidamente senti os primeiros toques... Enquanto eu tentava perceber se estava a pescar bem, o Guilherme tira o primeiro menino, e soltei um sorriso... Ver um peixe de amigo é o mesmo que ver um peixe nosso. E ele disse logo que já não gradava... A picar-me o sacana... Não demorei nem um minuto e já estava a tirar o meu... Porreiro, grade já não era.

Ao longe o Sol ia se mostrando e o meu pensamento era somente insistir até ele tomar conta do dia, e nos dar cabo da pesca, pois as águas ao aclararem iam se tornar más para a pesca.

Aqueles vinte minutos que ele demorou a desabrochar permitiu-nos apanhar 3 sargos cada um, e deixou-nos  satisfeitos com a pesca que já se tinha. Sem serem aqueles bichos típicos dos meses mais quentes eram sargos interessantes, e a pesca ia se compondo.

Um alcorraz esfomeado, que foi posteriormente devolvido


Fomos experimentando vários iscos e com a excepção do Lingueirão, todos era bem aceites. Senti toques com todos.

O dia já mais claro e com o Sol a romper entre as nuvens foi nos tramando a pesca, e a pouca água que começava a ter o pesqueiro não ajudava nada... Foram momentos de grande luta para se tirar alguma coisa, buraco a seguir a buraco, tentámos de tudo, alterámos iscos, baixamos os diâmetros até 0,18mm... Mas o escasso peixe apenas, deu mais um sargo ao Guilherme e um alcorraz para mim, prontamente devolvido, pois embora até coma, o dia estava a dar uns sargos não valia a pena estar a guardar mais nada...

O pessoal foi rodando e abandonando o pesqueiro, e nós fomos insistindo. A maré vazia e o sol a pique deram-nos cabo da pesca, via-se tudo, era um milagre apanhar um peixe assim...

Resolvemos parar e fomos tomar um belo de um café, e aproveitei o momento e o dia, que se pôs bom e com um calorzinho agradável, bem primaveril. Soube-me tão bem...
Aproveitando a pouca actividade fomos apanhar uns mouros para apimentar a pesca. É um isco tremendo para os sargos de porte...

Volvidos ao local, e já deviam ser umas duas e tal, a maré vira... E o vento tudo mudou. O meu maior "inimigo" da pesca apareceu assim de fininho, lentamente... O Windguru tinha dado mudança de tempo para o dia seguinte. Mas até dava o mar a descer, assim como o vento para a parte da tarde...

O pessoal que foi chegando, tal como nós não dava com os sargos, apenas um ou outro alcorraz e uma grande salema...

Cheguei a pensar ir embora... Mar aberto, vento, chiça... Mas lá está, para quem está tanto tempo sem pescar, só o facto de lá estar é suficiente e lá fomos resistindo, até porque como sempre o ambiente é fenomenal e fartamo-nos de rir com as macacadas que fazemos e claro com os companheiros de pesca que vamos vendo pescar, que sem maldade nenhuma vos asseguro, mas sim com uma visão engraçada da coisa, nos fazer rir imenso e viajar para momentos em que nós também tenhamos feito coisas assim...

Pela 2ª vez vi um rapaz que pesca à boia com uma cana de surfcasting... Epa, não é boa opção, dás cabo do teu corpo e dificilmente vais fazer alguma ferragem, só se o peixe embuchar... E depois o vencedor do dia, epa, não dá para exemplificar bem escrevendo, mas foi hilariante. Um senhor com a linha presa numa rocha, um senhor que estava ao nosso lado, quando eu me viro esta de cana virada ao contrário a raspar com a ponteira nas rochas como se fosse uma vassoura para tentar soltar a linha... Vendo que não dava resultado, agarra na ponteira, vira a cana e varre as rochas com o cabo, a ponteira quase a partir e nós sem saber se dizíamos algo, ou não pois podia levar a mal... Aquilo visto era de chorar, pois teve graça, tal era o ar descontraído e de certa forma zangado do senhor a tentar soltar a linha, e daquela forma...

Bem, voltemos à pesca... O vento cada vez mais apurado, foi trazendo nuvens, tapou o céu, escureceu o mar, este de repente por entre a carneirada e o mar incerto e partido, começou a espumar e ficou negro, duma escuridão perfeita, por baixo do manto de espuma que cobria todo aquele pedaço...

Lembro-me de olhar para o Guilherme e dizer-lhe que era o momento... Faltava ir ao Spot onde com aquelas condições, normalmente mais peixe dá, é um pesqueiro difícil, não pelo acesso, mas pela dificuldade em segurar a boia na escoa e tê-la lá no momento certo quando a escoa se vai e deixa o tal manto de espuma. É certeiro. E expliquei isso ao Guilherme, o truque ali e que realmente não é para todos, é manter a boia o mais perto do local possível, e no momento exacto trazê-la ao buraco... Naquele preciso momento a boia afunda e começa a nossa luta, que como sabemos bem, os que fazemos esta pesca é delicioso...

Para dificultar o processo ainda mais o vento que supostamente devia de estar de Sul, vira para Norte e começa a varrer-nos ainda mais a boia do pesqueiro e claro a cansar-nos muito mais. É este o problema das canas de 6 mts... São efectivas na ferragem e ajudam a controlar o peixe ao longe sem por tanto em perigo que este venha às rochas, mas com vento é uma tormenta...

Achei uma posição engraçada, que foi pescar na diagonal, com um braço a apoiar a cana e o outro a segurar, de forma a manter sempre a linha esticada... E desta forma, nem precisava olhar para ela a afundar... Sentia tudo, e eles ferozes atacavam tudo, Até o casulo pivete, o casulo capaz de fazer um brilharete, ahahah.
Um a seguir ao outro, era pôr e tirar, o peixe engolia até os chumbinhos de correr que ficam a bater no anzol. Qualquer isco que lhes desse eles atacavam, até iscos secos que estavam lá nas rochas usámos e apanhamos peixe. Ia lá eu e pimba... Enquanto tirava o peixe, ia lá o Guilherme e pimba, e numa espécie de tag team, fizemos em hora e meia uma pesca muito boa, divertimo-nos imenso, e a saca de batatas do Guilherme, transformou-se numa saca de sargos, repleta deles... O Sol há muito que tinha dado lugar ao escuro imenso que cobria toda a zona, e nós com a saca a encher e a encher, lá decidimos parar, ir beber um belo de um café, e pelo caminho fomos saboreando a pescaria que se fez... Acima de tudo e porque sabe bem sentir peixe, foi um dia em cheio, com muitas ferragens e desferragens, um dia de pesca fenomenal e com a companhia de um grande amigo...







Material:
Canas: Cormoura Corstrong 6 mts. (2)
Carretos: Shimano Nexave 4000; Shimano TwinPower FB 5000
Linhas: Maxima Fluorocarbono, Climax Fluorocarbono; Asso Ultra; Falcon Prestige
Iscos: Caranguejo verde, mouro; Casulo; Camarinha; Lingueirão


Filipepc e Guilherme

10 comentários:

  1. Bela sargalhada, e belo dia de pesca, muitos parabéns e continuação de grandes fainas, grande abraço pessoal.

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  2. Quer dizer que eles andam por ai...:)
    Boas capturas!

    Abraço

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  3. Não existe nada como o mar para carregar as baterias...:-)
    principalmente quando estamos com amigos né gradeiro..:-)
    Belos sargos e parabens aos dois pescadores.

    Luis Malabar

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  4. ja sintia falta dos teus relatos sobre pesca a boia :) qualquer dia vais ter de me dar umas liçoes sobre essa pesca, pois a de barco esta muito parada :( e essa pesca é daquelas que mais desperta interesse

    Um abraço e continuaçao de mais dias assim .

    Bruno (lostsoul)

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  5. Bela pesquinha Filipe!
    Grande abraço e vê se entras no Hotspot que já mandei o convite para ospescas@hotmail.com.

    Se quiserem que autorize mis algum email vosso apitem!

    Abração!

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  6. Olá João, obrigado, eu adoro pescar à bóia, mas foi uma pesca que deixei de lado nos ultimos tempos, ando a retomar.Abraço.

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  7. Olá Manel, andam por lá uns peixes sim, mas ainda quero mais e maiores. Abraço.

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  8. Obrigado Luís, vê lá se apanhas uns sargos angolanos.

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  9. Olá Bruno, epa, o meu tempo para pescar é muito pequeno, e claro, algumas pescas ficam de parte. Eu adoro pescar a boia e este ano existirão bastantes relatos desta pesca, vais ver. Um abraço.

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  10. Olá Zé, obrigado.
    Já me disseram que fechas-te aquilo... Depois falamos melhor, tenho pena, pois acho que muitos ficarão sem poder ler o blogue.
    Tenho pena, mas sei que a vida, por vezes é complicada. Abraço.

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