Por N motivos as minhas pescarias neste Inverno pouco se centraram na Costa Alentejana. menos tempo, menos energia a que esta pesca obriga, e julgo que alguma perspicácia... Não sou masoquista, se sinto que o não anda ali peixe, mexo-me, altero processos, escolho outros lugares ou tipos de pesca... Por isso este ano foi a 2ª vez que vim a lindíssima Costa Alentejana.
Olhando para os diversos sites de mar e meteorologia senti que ia estar duro... Mas este tipo de águas atrai bons peixes. Tínhamos canas para testar, novos materiais, e queria sentir na mão cada detalhe...
Agora vinha a parte essencial... Escolher bem a praia. Uma coisa que para mim é certa, um pescador também se define pela forma como escolhe o seu pesqueiro. Existe sorte, existe sei lá... Um momento certo para tudo e por vezes um pequeno detalhe faz toda a diferença, mas se pudermos minimizar os factores negativos, mais facilmente temos resultados. Eu acredito que a sorte existe, mas também acredito que a sorte contínua é a desculpa de quem não consegue aprender/evoluir. Nem ninguém tem sempre sorte, nem o inverso...
Após as últimas pescarias que a malta tinha feito na zona, e eles têm insistido muito estava com a consciência que alo tinha que mudar, que eles estavam a errar um pouco em termos de escolha do pesqueiro. Cabia-me a mim e ao Emanuel ao chegar as praias poder fazer uma escolha que minimizasse o mau ano da zona para o surfcasting.
Fomos rumo a Sul e como sempre vos explico, o ambiente deste GANG é ESTRATOSFÉRICO. Isso define muito a forma como tentamos saborear o " momento". Andámos perdidos entre estradas sem sinalização, com cruzamentos sem placas. O nosso Portugal no seu melhor. No meio disto, a primeiro situação engraçada e que nos fez rir muito... No meio ali de uma vila perdidos... A querer ir dar a uma praia da zona, vemos dois senhores e encostamos o carro...~
- " Olhe desculpe, onde fica a praia?"
- " A praia fica para ali a direita"
- " Nós queremos é peixe, está a ver?!!!"
E nisto o grande momento. A forma como o senhor de uma forma tão natural faz:
- " Ah, isso, então estão a ver aquela estrada ali a frente de areia, entrem por a terra batida e sigam a picada!!!"
E tudo pareceu fácil, para o senhor e para nós!!!
Lá fomos picada acima e abaixo entre mato e matagal... E chegámos a uma bela praia, bons declives, mas...
Olhei para o Emanuel e a ler o mar achei quase impossível pescar ali... Naquele dia... Ele concordou, o Nuno também...
Tínhamos que subir no mapa... Não havia hipótese... procurar o Intervalo entre o mar grande e o mar pequeno, enfim procurar o mar pescável. Duro, mas pescável.
É aqui que entra o estudo do dia anterior dos vários sites. Tínhamos os dados connosco, e era fácil de dar com o que queríamos, aliás só fomos mais a Sul ver se dava, uma questão de descarga de consciência. Na avaliação que tínhamos feito ao mar, o sitio onde fomos parar era o sitio escolhido no dia anterior...
Ao chegar lá fomos "ler" o mar e estava mais baixo, embora bastante forte... Quase no limite do que era aceitável para se pescar. O Emanuel estava renitente... O mar partia a uns metros e a última vaga era alta e forte.
Olhando para o mar sabia que aquilo era o pior, ele não ia alterar muito durante a noite, a diferença seria mais da maré, do estar vazia ou cheia, e claro vazia iria arear mais e a vazar correr sempre com mais força.
A primeira hora foi dura... Muito dura. Confesso que temi ter errado. O mar não estando impossível, corria muito para Sul. Estava complicado. Só via a malta a lançar, tirar, lançar, tirar. Canas fora de água. O Santos já só tinha uma na água depois de meia hora de pesca, e eu comecei a pensar para os meu botões... Ou isto melhora ou vamos ter que penar muito e só por milagre se apanha peixe...
Salsicha um isco de eleição... Olhem estas com 30 cm.
Mas isto foi ultrapassado facilmente, felizmente a troca do modelo de chumbada resolveu a coisa, e começou a aguentar muito mais tempo na água sem correr. O que já não era mau... Uma coisa que reparei é que não enleava os estralhos e pouco areava. Sobre isso menos mal...
Cinnetic BLACK STAR
DAIWA TOURNAMENT Z
O AMULETO DA SORTE NESTA NOITE...
SUPERCORE
Leve, potente e marcadora...
Um aspecto que para a maioria seria mais stressante, mas a mim me encanta é o facto de em 4 horas de pesca que já levávamos nem um peixe, nem um toque... Mas nem uma vez o isco sequer mexido, ratado... Nada. Dirão... Mas isso é mau sinal! Sim, ok. É e não é... Se por um lado atesta o deserto de peixe que estava a ser a pescaria, também me garantia que estávamos a pescar... Que as canas mesmo estando lá 20 ou 30 minutos tinham isco, e isso é positivo... Em dias assim, há que esperar pela sorte. E há que fazer por ela...
Então... O problema não era o mar... Não era o estralho enrolar, não era falta de energia que via todos a trabalhar... Eu estava bem e sempre com estralhos preparados e com belas iscadas cá fora para ser só trocar assim que tirasse a cana... Até tinha a barriguinha cheia com dois hambúrgueres e o café era suficiente para me atestar o depósito olhal...
Lembro-me de estar sentado, parado olhava para o Emanuel e abanava a cabeça... Falámos, e nem acreditava... 5 horas a pesca, 4 gajos e nada... E no meio dos meus botões pensei... Não... Agora foi o outro que me fez voodoo... lol. E no meio do desânimo veio uma convicção... O que sei chega e sobra para ao menos tentar... Parado não vou ficar. Há que levantar e pensar... E pus-me a olhar novamente para tudo, mar, iscos, estralhos... E a pensar onde podia eu ajudar a sorte a me encontrar... Um caderno tinha ajudado a escrever tudo o que me veio a cabeça... E agarrei me ao trabalho. Fiz montagens novas, e alterei logo uma. Deixei outra pronta igual. Fiz uma um pouco diferente e preparei uma montagem em que o segredo se baseava só em procurar o peixe mais alto, mais acima... Porque lá em baixo e com montagens quotidianas ele não queria pegar...
Pensei nos iscos, lembrei-me de experiências passadas, de pescarias semelhantes, do que estaria mal... Os iscos foram alterados, tentando conjugar hipóteses, procurando o peixe. Acertar neste enigma era o que podia salvar esta pesca com um mar tão bonito que metia dó gradar. Aqui a alma de spinner salvou-me... O que dá fazer outros tipos de pescas é que recolhemos ensinamentos de cada uma e por vezes isso pode nos salvar...
Mas a grade era o que tínhamos com 5h30 de pesca passadas.Impressionante como nem uma vez me comeram o isco, nada.
Sentado na cadeira esperei... A noite tinha acalmado, o vento já era apenas uma brisa, e o frio que tanto nos massacrou este Inverno não era mais que uma miragem. Parecia um quadro com todas as condições, com tudo não fosse o peixe não aparecer. Mas a persistência dá frutos, em praticamente tudo na vida, o trabalho acaba por merecer recompensas e os espíritos indomáveis raramente são os que ficam em branco... Finalmente a monotonia seria trocada pela alegria de ver uma, duas, três canas a baterem de seguida... Finalmente a guerra começava!
As canas finalmente deram um ar de sua graça e que noite memorável malta... A qualidade dos toques foi brutal.
A cana da ponta bate, e a Supercore também, uma grande varada... Corri feliz, enquanto o Emanuel tirava um bom sargo, eu trabalha o meu primeiro robalo. Com o declive da praia e com a escoa brutal foi uma picaaa... Foi robalo para a direita, robalo para a esquerda, escoa a levar o peixe e eu a correr com ele pela praia. Um sabor muito bom, muito especial... Quando o vejo a seco, os meus olhos ficaram a brilhar. Sabe muito bem acertar, sabe muito bem quando fazemos algumas escolhas e vemos que elas dão frutos.
Com um peixe cada, a coisa animou e acreditei... Sim acreditei e voei da cadeira, troquei logo o estralho, pus a cana a pescar e vim desembuchar o peixe e preparar mais iscadas... Do outro lado o Nuno saca um grande sargo quileiro e a coisa parecia compor-se. Foi bom, muito bom acreditem...
O animo melhorou tanto, acreditámos todos, foi ver as caras lavadas por um sorriso puro e profundo.
Estava eu a preparar outro estralho quando vejo novamente a Supercore as varadas... E corri... E assim que agarrei... peixe com força, e foi trabalhá-lo com toda a calma, e novamente com a água já muito alta, a luta na escoa foi de outro nível... Muito bom. Que gosto que estes peixes me estavam a dar tirar. Muito fortes, muita luta nas escoas... Muito bom mesmo. Com calma a coisa aconteceu e lá tirei outro macaco...
Era hora de ir ter com o GANG da faixa direita e ver como estavam as modas... O Santos mantinha a grade, o Nuno estava com o sargo... E o café do Santos estava uma delícia... E nisto... Olho de esguelha e vejo a Trybeam a bater e corri... Vi logo ser peixe mais pequeno... e nem pensei em trabalhar nada... Uma baila porreira. E foi aí que o meu grande amigo Emanuel olhou para mim e disse... " Não há hipóteses... Um pode calhar, dois já dá que pensar... três peixes com a mesma montagem e com o mesmo isco... Não é sorte..." ... E eu sorri somente...
Um dos peixes da noite...
E fomos para o nosso acampamento... Ele muda a montagem e logo no lançamento a seguir... Pimba, a Tournament Z a bater... Um excelente robalo... E trocou de iscada, foi lá para dentro... Não demorou 5 minutos para a cana bater novamente... Lá corremos e ali na escoa deu a sua luta, andámos ali uns segundos e lá veio para a saca. Outro bom robalo.
E a coisa ficou realmente a prometer. O peixe finalmente tinha aparecido, não de uma forma abrupta, mas a espaços e sempre de bom tamanho. De seguida a última cana bate e lá vai ele tirar outro sargo bom... E nisto vejo novamente a Supercore a bater, grandes cabeçadas, foi correr e ter mais um momento de êxtase. Mais um bom robalo, mais um peixe lutador... Uma escoa fabulosa a dar muito prazer a tirar-se um peixe. E o terceiro robalo para a minha conta estava feito... Boa bitola de peixe que esta noite nos estava a dar... O mar e o vento ao acalmarem proporcionaram e ajudaram a que tudo se encaixasse. Nada é ao acaso.
Estávamos sentados quando novamente a Z bate e lá fomos os dois... Peixe ferrado, foi só trabalhar com calma e trazer até a margem onde ele deu uma boa luta... Outro robalo. A pesca estava composta, a maré já vazava há algum tempo e a pesca efectiva estava a terminar. O mar também tornou a levantar e começou novamente a correr e a arear... Obrigou a muito mais luta, a muito mais esforço para se manter as montagens pescáveis. Os estralhos começaram a enrolar mais e estava na altura de os encurtar um pouco até encontrar o compromisso perfeito. Bastou esta alteração e estávamos novamente a pescar. A noite esfriou, mas comparado com o que se sofreu em Janeiro, este frio não fez mossa... Era tempo para mais um café e sentar um pouco... O Emanuel fechou um pouco os olhos, a pesca em si estava feita, eu lá me enrosquei, mas não dormi, e fui tratando das canas...
Excelente noite, estava a saber me muito bem aquele ar, aquele mar, o dia começava a clarear, agora muito cedo, e a maré de tão vazia não dava margem para grandes feitos... Já com a malta a a começar a arrumar, ainda alterei uma das canas, quer a montagem, quer o sítio... Tornei ao Plano B, o que tinha dado o peixe de noite, e ali no clarear a Supercore dá uma valente marrada... Peixe ferrado, peixe a correr no caneiro, com a escoa, mais uma bela luta. Foi a feliz despedida desta pescaria em que soube bem, muito bem, ter tido coragem de mudar. Acima de tudo vejo esta pesca dessa forma. O que fez a diferença foi somente isso... Intuição, muito feeling e crença no que sabemos e claro, um espírito indomável que quando se manifesta raramente deixa de facturar.
No final da faina fiz 5( 4 robalos 1 baila) e o Emanuel outros 5( 3 robalos 2 sargos), o Nuno C. dois sargos um muito bom e o Santos dorme demasiado na cadeira... numa noite que marcou uma certeza... O problema não era do peixe, o problema era da falta de atitude... Houvesse mais e a mais tempo e o quadro este Inverno tinha sido outro...
Aos restantes membros do grupo... Um abraço e espero em breve pesquemos juntos.
Canas: Vega Supercore, Vega Hellion, Vega Potenza Evo Caster, Cinnetic Black Star Hybrid, Daiwa Tournament Z, Daiwa Tournament Caster Hybrid, Daiwa Sky Caster II Hybrid, Daiwa Trybeam, Daiwa Prime Caster, Shimano Surf Leader
Carretos: Shimano Bull´s Eye XT (2), Shimano Bull´s Eye 9100 (2), Shimano Aero Technioum XSB, Shimano Aero Technium XSC, Shimano Ultegra XSC, Shimano Ultegra CI4, Shimano Ultegra XSB, Daiwa Saltiga Surf, DAM
Linhas: Cinnetic Sky Line, Yuki Kenta, Sufix 100% Fluorocarbono, Vega Potenza SC
Iscos: Casulo, Minnhoca Branca, Borracheira, Caranguejo 2 cascos, Choco fresco
FilipePC, Emanuel, Nuno C., Santos
Boas Filipe,
ResponderEliminarPelo menos agora vais ficar com mais pica de voltar outra vez a esta Costa... :)
É muito importante, ver o pesqueiro de dia e tomar as decisões certas e optar pelas montagens mais apropriadas. Mas mesmo assim uma pontinha de sorte tb faz falta... LOL
É claro que quando se tem sempre muitas boas capturas, não será o fator sorte a marcar a diferença...
Forte Abraço e apertem com eles
Só quando é que eu não vou é que a coisa acontece :)
ResponderEliminarUm abraço
Belos barrotes amigo. Já vinham era panados, lol. Um grande abraço e parabéns é dos melhores relatos de sempre. David.
ResponderEliminarMais um bom dia de pesca onde a mudança de atitude teve os merecidos frutos, a sorte procura-se e neste caso encontraram-na, parabéns pelos peixes.
ResponderEliminarAbraços e continuação de bons lances e de optimos relatos.
Parabéns a todos pela pescaria :-) A pescar de costa é fundamental a escolha do local. É a diferença entre grade e uma possível boa pesca a meu ver :-)
ResponderEliminarGrande abraço e muita alegria
Luís Malabar