Uma noite destas estava eu e o Numberone, o
maior gradeiro do Oeste e arredores, numa praia do Oeste, noite fraquinha de
pesca, como aquela zona me tem sempre habituado. O NumberOne solta um desabafo:
epah gostava de ir a Costa Alentejana uma última vez. E eu prontamente disse
que alinhava, e podia ser logo no fim-de-semana seguinte.
Os restantes colegas
do Gang iriam chamar-nos malucos, já á muito tempo que tinham desistido da
Costa Alentejana. Tínhamos aquele feeling de que poderíamos fazer uma pesca
engraçada. Mas de repente nos lembramos, não podemos dizer nada aos restantes
membros, senão as bruxas começavam logo a agoirar a pesca.
Planeamento feito no maior dos secretismos,
isco comprado com a desculpa que ia a qualquer lado a pesca com um amigo que
nunca tinha pescado, e ninguém desconfiou.
Sábado a hora marcada o NumberOne aparece a
minha porta e lá seguimos viagem. O local já estava escolhido a muito,
dificilmente convencia o Gradeiro da Arruda a ir espreitar outro local. A
conversa durante a viagem foi quase sempre a volta do mesmo, o resto do Gang
quando descobrir que viemos sem dizer nada vai ficar chateado. Isto porque no
nosso grupo de Amigos, não existem segredos relativamente a pescas. Tinha
ficado igualmente combinado de que se o resultado fosse a grade, iriamos manter
a pescaria eternamente em segredo, não estávamos com vontade de aturar as
bruxas macumbeiras.
Chegamos ao spot e ficamos maravilhados com o
mar, tomara nós no inverno apanhar um mar com as condições que este se
apresentava. Mexido o suficiente e com uma cor espetacular, um azul forte,
aquele mar de robalos. Montamos acampamento e canas na água, ainda era cedo, o
sol ainda ia alto.
As canas não mexiam, os iscos iam e voltavam
na mesma. Nada que não estivesse a espera com o Sol ao alto. Logo que o sol
começa a desaparecer preparo uma iscada com uma americana XXXXXL, eram tão
grandes que nem cabiam nas maiores agulhas que tínhamos, era tão complicado
isca-las que pela primeira vez levei uma trinca de uma delas. Antes de lançar a
cana comento com o João, que desperdício de americana, deve ir lá para dentro
sacar um miauuuuu. Passado um bocado vejo uma das canas direitas, vou até lá e
reparo que a ponteira estava a dar sinal que algo lá estaria, puxo e tiro um
sarguito palmeiro. Como é hábito comecei a moer a cabeça ao João, um já cá
canta. E como costuma ser hábito, tivemos a esperança de que poderíamos estar
ali algum tempo a sacar uns sarguitos.
Mais uns lançamentos e a isca voltava tal e
qual tinha ido, a noite não estava prometedora. Até que a certa altura o João
chama-me, olho para o chão aos pés dele e vejo um bom robalo, bastante bom para
a altura que estávamos. E tomei a decisão, já temos peixe de jeito chegou a
hora de tornar publica a pesca. Tiramos uma bela duma selfiesh e envio para o
grupo. A reação dos restantes membros foi calma, calma demais para aquilo que
estávamos a espera.
E aqui foi o ponto de viragem, as 'bruxas'
descobriram o nosso plano... Fomos refazer as iscadas e ao levantar duas das
canas, o 0.18 de dois carretos partiu-se, e partiu com pouco esforço. Nos
últimos meses andava com pouco tempo disponível, e que me levou a descurar a
correta manutenção das linhas, muitas vezes chegava a casa e nem lavava logo o
material, nem lhes aplicava lubrificante. Resignado e chateado com a minha
descura para com o material, resolvo arrumar uma das canas, mas não podia ficar
o resto da noite a pescar só com uma. Por sorte tinha comprado uma bobine nova
e tinha-a na mochila, resolvo bobinar novamente o carreto. Trabalheira do
caraças mais o João, carreto bobinado com o suficiente para pescar, estou a
montar o chicote, a linha nova parte ao fazer o nó. Testo a linha, e não é que
a linha nova a estrear estava igualmente ressequida. Refaço o nó do chicote com
muita calma, e volto a pescar, sempre com muito cuidado de forma a não partir a
linha. Neste momento tinha uma cana totalmente operacional e outra coxa.
Entretanto o João tira outro robalote, nos
limites mínimos da medida. Voltamos a ter esperança, é desta que a noite
melhora... Bem enganados estávamos, a partir daí foi uma desgraça, começamos a
tirar lixo, entre cordas, redes tudo o que possam imaginar. Entre o lixo lá
íamos recuperando alguns dos chicotes perdidos, e um deles deu-me uma
trabalheira enorme, vinha um molho de corda, um chicote do João com uma baila
enorme.
Como a maré estava na baixa-mar, decido deixar
as canas fora de água para descansar um pouco. Depois da soneca refrescante,
voltamos a carga, apostamos forte, experimentamos todo o tipo de iscos que
tínhamos, e os gajos teimavam a voltar inteiros agarrados ao anzol. Sem nunca
desistir, Espalha-mos mais as canas pela praia, mas o desespero começava a
apoderar-se de nós. Por causa do lixo, as linhas quando se cruzavam faziam
autenticas cabeleiras, fartamo-nos de cortar fio dos carretos, nunca me lembro
de acontecer tanta coisa de mal como nesta noite. Estava a aproximar-se o
nascer do dia, e mesmo em desespero, não sou gajo de desistir, eram os últimos
cartuchos para salvar uma noite miserável. Eu comentava com o João de que não
me lembrava de ter uma noite assim. Sentados nas cadeiras, e as canas sem atividade,
acabamos por adormecer, foi ai que nos resignamos, por muito que lutássemos,
nada poderíamos fazer. Acordo já com o Sol a querer aparecer, e o João comenta
que o melhor é arrumar a tralha.
Quando vou recolher a ultima cana, que
surpresa, um robalinho sem medida, e bem embuchado. Estou eu a fazer os
possíveis para libertar o robalo do anzol para o devolver, não sei que voltas
dei que o anzol solta-se da boca do bicho e záásss. Tinha acabado de apanhar o
tarolo da noite, aliás um tarolão com 100 kgs. Espeto o anzol no dedo e que bem
cravado que o gajo estava. Os anzois eram realmente bons como o Paiva tinha
dito, cravavam bem, e tira-lo estava difícil. Tento puxar, nem mexe, tento
empurrar, as dores eram horríveis. Tomamos a decisão de arrumar tudo e ir ao
Centro de Saúde mais próximo.
Quando chegamos ao carro tivemos uma bela
surpresa, o João encontrou o tarolo do Soares, e que crescido que o gajo já
estava...
Primeiro Centro de Saúde... Fechado...
Porcaria mais aos cortes orçamentais, um gajo bem pode morrer até chegar a um
centro de saúde ou hospital em funcionamento.
Decidi logo, já fizemos parte do caminho, o
anzol não me estava a incomodar muito espetado no dedo. Vou para casa, o João
segue a sua vida e eu vou até ao Hospital Garcia de Orta.
Adorei ver a cara da enfermeira da triagem mal
olhou para o dedo, e ainda me perguntou se ao menos tinha apanhado alguma
coisa, ao que eu respondi que antes mesmo de espetar o anzol no dedo, tinha
sido uma das piores noites de pesca que eu me lembre, isto foi mesmo a cereja
no topo do bolo.
O médico não fez nada que eu não pudesse ter
feito logo na hora, mas havia uma diferença, ele anestesiou-me o dedo. A partir
daquele momento poderia fazer o que quisesse para tirar o anzol. Queria aquele
anzol para recordação, mas o médico teve que o cortar aos bocados para o
retirar.
E deu-me um conselho, sempre que isto
aconteça, até podemos fazer uma pequena cirurgia na praia, mas convém sempre ir
ao hospital, devemos tomar antibióticos para prevenir eventuais infeções.
Às restantes bruxas do GANG que não nos
acompanharam nesta pesca um grande abraço.
MATERIAL:
CANAS: Vega Potenza Elite, Daiwa Cast´Izm,
Tubertini Metallic F1, Daiwa SkyCaster, Barros XK, Tubertini Hypersurf
CARRETOS: Shimano Ultegra XSC, Shimano
Surfleader (2), DAM Quick SLS (2), Tica Scepter
LINHAS: Cinnetic Sky line (carretos), Sufix
100% fluorocarbono (estralhos)
ISCOS: Americano, Casulo, Caranguejo, Titas,
Lingueirão.
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