O surfcasting é para mim a técnica de pesca que permite um convívio mais saudável por parte dos pescadores. É uma pesca de espera, uma pesca que nos permite ficar a contemplar o mar e toda a sua grandeza, ao mesmo tempo que nos permite conversar e trocar ideias com o pessoal. Permite aprender e ensinar, permite a todos interagirem e essa envolvência consegue criar uma cumplicidade que sinceramente noutras técnicas não acho que seja possível...
Numa noite de Inverno, com pouco vento, e muito boa disposição, um grupo bem disposto resolveu pôr-se a caminho do Meco, mais propriamente do Moinho de Baixo, na praia das Hortas.
A fé estava inabalável, o grupo unido, motivado e com " fome de pesca". Tudo ou quase tudo estava a nosso favor...
Os dias anteriores apresentavam uma temperatura intimidatória para os pescadores de sofá, somente os reais pescadores se deslocariam à pesca numa noite em que as temperaturas baixava para perto dos zero graus. Só mesmo os que amam a pesca podem aceitar sofrer em busca de tamanhos momentos...
Mas vamos continuar a história... Durante dias o mar esteve gigante, os ventos sopraram de uma forma implacável e o peixe esteve dias sem poder se alimentar. Aquela era a noite em que o mar caía, situação que eu considero o ideal para se proporcionar uma excelente pescaria. Aliás até mesmo neste dia o mar estava impraticável até que de repente, de uma hora para a outra o Windguru dizia-nos que o vento caía dos 40 km/h para menos de 10 km/h, o mar baixava dos 5 para os 2,8 metros e os enchios( período da vaga), caía dos 15 para os 12/11.
Chegámos às Hortas pelas 16horas e até custava abrir a porta do carro. O pessoal ficou apreensivo, eu lembro-me que dizia para terem calma que a partir das 18h começava a acalmar e das 21h em diante ficaríamos na piscina...
As primeiras horas foram difíceis, muito vento, mar a correr, estava complicado conseguir pescar.
Para piorar a situação a maré baixava e o Meco outrora zona de grandes fundões, encontrava-se areada, com quase toda aquela zona com muito pouca profundidade.
Alguns companheiros mudaram de local à procura de zonas com mais água.
Já iam muitas horas de pesca, já o vento caíra, o mar acalmara, quando saiu o primeiro peixe, um sargo capturado pelo Luís Amaral. Julgo que o Pedro também apanhou um pouco depois e mais 2 robalitos pequenos prontamente devolvidos...
A maré essa estava perto da baixa mar, o grupo que era bem grande( Filipe; Filipe João; Pedro Pereira; Luís Amaral; Paulo; Likas; Paulo Coelho; Vitor Grilo; Jorge Pereira; Chico), continuava a pescar literalmente em seco, quando uns colegas ligam para virem ter connosco. Avisamos que a pesca estava complicada e que mais valia irem para a lagoa em busca de fundõe spois nós não nos estávamos a safar. Eles lá foram, e nós lá ficámos.
Perto da meia noite ainda sem resultados alguns começaram a arrumar o material e foram em busca do vale dos lençois, pois a pesca não dava sinais de mudar o rumo dos acontecimentos...
A maré deu a volta e os resistentes começaram a formar um grupo perto da zona onde o Pedro e o Vitor tinham o material e em amena cavaqueira iam tentando resistir ao obvio...
Mas a pesca por vezes dá-se, e sabem, eu não sei explicar, mas por vezes temos "feelings", eu nisto da pesca tenho muitas vezes essas sensações( umas vezes corre bem, outras falho como todos), e aquela noite era uma daquelas que eu achava que tinha que se dar... O mar estava calmo, mas oxigenado, a temperatura cá fora era tão baixa que a certa altura da noite por cima do mar, pôs-se aquele nevoeiro indicativo de que a temperatura do mar estava muito mais alta do que o exterior. Parecia que fervilhava e saía vapôr... Estava com fé, o mar estava robaleiro...
Perto da 1 da manhã tiro um sargo de umas 400 gramas, e torno a lançar as canas, faço uma boa iscada de casulo, daquelas de 15 cm pela linha, ato com o fio elático e pimba, lá para dentro. Acerto as embraiagens e torno para o pé do pessoal que estava bem longe das minhas canas. No meio de um círculo de amigos, vemos a cana do Pedro a dar umas cabeçadas, mas a conversa estava boa e epa, o mar ainda corria um pouco que o Pedro não foi logo lá... Até que desconfiado, resolve agarrar na cana, e passadas umas maniveladas diz-me: " tenho lá peixe". Bem, a cana estava em esforço e corri logo para perto de água na ânsia de vêr o exemplar e claro ajudar caso fosse necessário. Já perto da margem vejo que é um bom labrax e quando sinto que era seguro jogo-lhe a mão e trago-o para terra, para o seu "dono". Todos ficaram radiantes. A noite estava a sêr bem passada, e aquele exemplar de perto de 3kg deixou-nos felizes, e com aquele sentimento de: "já valeu a pena". Ao menos algum se tinha safo...
O pessoal animou logo e foi vêr todos a lnçarem as canas com um enorme sorriso. Eu não tirei as minhas, não calhou... Estava entusiasmado e fui mostrar o peixe ao Jorge e ao Chico que estavam longe e eram os únicos( dos que ainda lá estavam) que não tinham presenciado o momento. Ficaram logo animados e com a boa disposição que os caracteriza lá revigoraram as caras e foram à " luta".
Eu voltei para perto do pessoal e a conversa continuou muito porreira, e lembro-me de olhar para as minhas cana e vêr a Power Aero a dar uns safanões, mas estava tão longe e como ainda se faziam sentir embora pouco, as aguagens, não fui vêr, e continuei com o pessoal. Mas aquilo ficou a roer-me, fiquei desconfiado, nem que seja animado pelo peixe do Pedro, sei lá... Entretanto o Luís e o Paulo também se vão embora e dizem-me: "se apanhares alguma coisa manda mensagem". Ok disse eu, naquela...
Passado um bocado e ainda com a ideia da cana a abanar, lá decido ir vêr das minhas canas...
Agarro na power aero faço aquele movimento para trás com a cana...e... xiça... que peso... Pensei logo que tinha mas é apanhado algum monte de cordas... Fecho um pouco o drag e começo a rebocar "aquilo"... A linha estava bastante para a direita, e isso deixou-me desconfiado, pois o peixe é que costuma fazêr isso, e dei mais umas voltas, que apesar do peso, a força do aero technium é tanta que o carrete nem se queixava... Já a menos de 20 metros da margem sinto um travamento e finalmente o peixe acordou, finalmente me deu o sinal de que era peixe, e lá deu uma ligeira corrida, não lhe dei grandes hipóteses, até porque o animal devia estar exausto de tanto tempo que esteve a lutar contra o drag, e fui enrolando, mas com mais cuidado pois perto da margem normalmente o peixe ao sentir o "fim da linha" costuma ganhar força e dar algumas arrancadas, isto somado à força do recuo das ondas, pode sêr fatal. E na luta com exemplares de bom porte, não podem existir falhas... Estive ali uns minutos a trabalhar o peixe perto da margem longe do olhar de todos e até do meu, que embora já estivesse a contar com um bom peixe, não contava com o que me veio parar aos pés... Após mais uns enrolamentos aproveito a onda e ponho o peixe literalmente aos meus pés... Fico durante segundos parado a olhar para aquele exemplar, para aquele Labrax. Um peixe lindo, um macho enorme, muito comprido, o maior robalo que em surfcasting eu havia capturado. 5.6kg de alegria e 91 cm... Dou um grito e chamo pelo pessoal que ao chegarem perto de mim, partilham a alegria e o momento. Agarro no meu exemplar e vou mostrá-lo ao Jorge e ao Chico, que lá estavam sempre determinados e ainda mais ficaram...
Durante mais uma hora ainda aguentámos em busca de mais algum animal daquele porte... ele não apareceu, mas acreditem, que aquela era noite de peixe... Há muito que não apanhava uma noite tão perfeita para o surfcasting... O Meco estava era sem zonas com fundões de resto, aquela noite tinha tudo, como viemos a confirmar pela pescaria que os nossos colegas que foram para a lagoa fizeram... Fiquei cheio de vontade de ficar, mas com a proximidade do Natal, muitos tinha que fazêr e já era aquela hora dia 24, o dia da consoada. Arrumámos o material... enviei a mensagem ao Luís e ao Paulo, que ficaram doidos( eh eh eh) e rumámos a casa.
Que noite, que grupo, e que peixes que Neptuno nos reservou...
Material:
Canas: Shimano Power Aero xtr 3 pièce 4,25mt; Shimano Super Aero Technium 5 mt;
Banax Steel Power 5 mt(2); Vega Excelence surf(2), Vercelli Spyra aktiva; entre outras.
Carretes: Shimano Ultegras( vários), Shimano Titanus XT; Shimano Aero Technium XT;
Shimano Aero Tecnhium XSB; Power Aero XSA, entre outros.
Linhas: Asari G2; Falcon Titanium; Awa-Shima Red Iso; Awa-Shima Surfcast, ente outras, todas com terminais cónicos.
Estralho: Sufix 100% Fluorocarbono 0,38.
Chumbadas: 120 a 150 gramas torpedo e pirâmide.
Iscos: Casulo, Americana; Lingueirão; caranguejo de 2 cascos. O peixe foi capturado com casulo.
Filipe Condinho
Foi sem duvida uma bela noite de faina. Grande abraço
ResponderEliminarÉ verdade Jorge... E continuo com a certeza que sem voc~es nunca teria apanhado aquele robalo lindo! O frio era tanto, que sozinho não teria me aguentado. E claro a vossa companhia é algo de simplesmente encorajador. Muitas noites temos todos passado em claro, e quase todos já tivemos uma ou outra noite de glória... E mais virão ;)
ResponderEliminarboas,
ResponderEliminarbelo peixe, parabens.. !! :)
tu apanhas te o macho e eu a femea.. eheheh tb com 5kg..
eles andam ai..
cheira me q vai ser um ano muito bom de robalos..
abraço
Obrigado Daniel... Era um peixe enorme, não era é gordo. Mas foi o robalo mais comprido que já vi, parecia um lagarto... Já vi robalos de 7 e 8 quilos mais pequenos. Este era um peixe seco e esbelto. É uma sensação fenomenal apanhar um peixe assim.
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