Frustração de pesca, revolta na alma

Boas,

Confesso que estou sem a mínima vontade de escrever seja o que for. Cheguei a pouco da pesca, o dia foi fraco, aliás, estou a ser deveras simpático, mas resolvi fazer o relato, por 3 motivos:

- 1º, para todos perceberem que nem sempre a pesca corre bem.

- 2º, para fazer uma reflexão sobre o dia, procurar e encontrar soluções.

- 3º. porque sendo este blogue, como um diário, serve para a data ficar marcada sobre o que eu hoje vou dizer.

Procuro por vezes a forma correcta de escrever sem fugir aos assuntos, mas sem criar polémicas, que não me interessam para nada.

Espero portanto não dizer nada que não deva...

As últimas pescarias têm sido bastante boas, capturas de bom nível, quantidades interessantes, tem valido a pena. A motivação portanto tem andado em alta.

Como acontece muitas vezes, quando melhor preparamos uma pesca, parece que é quando tudo corre pior... Enfim...

Com tem sido hábito dormi pouco, levantei-me cedo, entrei dentro de água ainda não eram 4 da manhã... O que eu faço por este desporto, não ganho mesmo juízo.

O plano era começar pela pesca aos robalos à chumbadinha, e assim o fizemos. Na realidade começou logo ali o dia a fazer-se!

Por ainda estar algo escuro em 4 lançamentos prendo 3 vezes o estralho num cabo que existia ali na zona.

Tivemos hora e tal para ter 3 toques, um bom, que não ferrou, e dois mais pequenos, um deles ferrado. Um robalo miserável.

Por entre a brincadeira, andámos de roda de umas tainhas e apanhámos uma viva para pescar à Corvina, e como tinhamos dois chocos vivinhos, era mesmo o isco que faltava para tentar...

Muitas tentativas, até que o Palma apanha uma, e a mete no balde com água, mas enquanto pescámos ela desapareceu, provavelmente fez o que elas sabem tão bem fazer. Saltou para fora do barco.

O dia já tinha nascido e decidimos ir para um spot entretermos-nos com uma cana às Covinas com tira de choco, outra com o choco vivinho a passear por baixo à espera das mutantes, e duas com caranguejo de 2 cascos e moles, e ainda Ganso nacional.

Pelo caminho vi redes dentro da baía do Seixal, na saída da Ponta do Mato, no canal do Barreiro, e durante todo o percurso até ao canal que vai dar a Lisboa.

Tentámos ir a um cabeço onde já fizemos uma boa pescaria, e o que lá estava? Mais de 100 metros de redes a tapar toda a zona. Meia volta, toca a ir a outro sítio, desta um fundão.

Ali ficámos durante hora e tal, onde nem um peixe tirámos e apenas se sentiu um pequeníssimo toque.

Depois de falar com o Palma, decidimos ir experimentar mais para dentro, e andámos à procura de um local que fosse fundo...

Fundeámos e tentámos renovar o espírito.
Enfim tanta expectativa, no único dia da semana que eu tinha livre para ir à pesca... Lanço a cana, e passados segundos reparo que está em esforço, quando tento levantar, nada... Presa. Porra! Bem, decidi deixar estar e pescar com a outra até se ver se valia pena ficar ou levantar ferro. Como nada dava, resolveu-se levantar ferro e tentar soltar a minha cana.

Começo a puxar e o que vemos ao largo em nossa direcção? Um barco de pescadores, que ao chegar perto de nós, vem a refilar... Epa mas será possível?

Bem... Em tom ainda de verdade absoluta vieram dizer-nos que estávamos a pescar numa zona onde eles tinham aparelhos??? E nós questionámos como adivinhamos que existem aparelhos naquela zona sem qualquer sinalização? Resposta: Claro que não estão sinalizados, aqui não se pode ter!
Bem, por entre uma conversa deveras interessante ainda ouvi algo que me fez terminar a conversa, porque sei bem que não vale sequer a pena este tipo de cenas. Sei bem onde vão parar, sei o que se passa, enfim... Ouvi" Nunca mais sai a lei para vos proibir de pescarem durante a semana, a ver se nos deixam em paz"... E aqui para mim terminou logo a conversa...

Ora estamos a pescar, com licença, numa boa, aparecem pessoas que até podem viver do mar, mas que estão a infringir, e ainda se acham donos da razão, não há pachorra. Sinceramente, se respondesse muito, ia me passar, é respirar fundo, e dizer 10 vezes... Estás aqui para ter divertir, estás aqui para te divertir...

O Palma ficou obviamente stressado, eu não gostei, mas tentei relaxar. Fomos mais para fora, a um canal que já nos deu um  bom peixe, e quando lá chego, na direita era mais uma rede.

Bem fomos mais para a esquerda fundámos, e ali senti uns toques, nada de especial, mas ia sentindo toques. O Palma adormeceu e fiquei entretido a levar um baile de uns peixitos, e apanhei ali uns charrocos e uma rabeta...

Durante hora e meia foi assim, até que resolvemos sair dali e ir em busca de algo melhor...

Voltámos ao local onde se começou, e estivemos ali uns minutos sem sequer tocarem no isco... Nada, nem um toque. Mudei a direcção dos lançamentos, aumentei a iscada, e levo uma valente cacetada, já o Palma dormia novamente. Levanto, dou um esticão, e ferro o peixe, que me dá uma valente corrida lateral, contra a direcção da corrente. Levanto-me começo a trabalhá-lo, e ele dava muitos safanões, típico do peixe mal preso. São toques secos, e quando ia chamar o Palma, para começar a abrir o Xalavar, ele soltou-se. Um bom peixe. Fiquei danado. Tinha um estralho com uma fatecha e mesmo assim safou-se. Bem, troquei aquilo, e resolvi por o maior anzol que tinha comigo, um 6/0, mas de um modelo da AWA-SHIMA bem grande, parece-me um 7/0 ou 8/0. Isquei com meio choco, com os tentáculos para baixo, e resolvi lançar para o mesmo sítio.

As outras canas, nem nada. O ganso nacional nem comiam, o caranguejo raramente... O choco do Palma, sempre intacto.

Que dia, xiça.

Bem, a mesma cana começa-me a andar sozinha muito lentamente, vejo duas cabeçadas e agarro... Peixe ferrado, mas era pequeno, já perto do barco vejo um safio pequeno, quando a outra dá um porradão... Largo a 1ª com o safio dentro de água, agarro na outra e Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz, tento levantá-lo do fundo para ver se corria para os lados ou para baixo, e rapidamente vi se tratar de um excelente safio. Força bruta, arranques na vertical, cana em esforço, drag a trabalhar... Bem, sem nada de jeito capturado, resolvi me concentrar no que estava a fazer, e chamei o Palma para abrir o xalavar... Após uns minutos de luta, eis que ele se aproxima do barco, e esqueço-me que tenho a outra cana na água com outro safio... Claro deu porcaria, enrolaram-se... Mas lá safámos aquilo e conseguimos pôr o grandalhão dentro do xalavar, cortei o estralho e fiquei a fazer novas montagens. O pequeno foi devolvido com vida.

Bem, mais umas tentativas, mas sem qualquer sucesso. Falámos e resolvemos ir tentar mais para o Barreiro, quando vamos pelo canal na direcção do spot, redes, redes, e mais redes...
Sou sincero, todos os copos têm um limite, e eu transbordava água! Ainda tentei ganhar moral, e fizemos dois lançamentos, mas o Palma estava descrente e cansado, eu estava já sem paciência nenhuma... Embora algo me diga sempre para continuar... Ele lá me convenceu e fomos até ao bar da Ponta do Mato beber dois cafés cada, e um gelado da Olá, e um bolo.

Ali arrumámos a tralha e terminámos o dia.

Cada dia que vou ao mar, desde que começou a dar corvinas e douradas no rio, vejo mais redes, aparelhos não sinalizados que atravessam canais, redes que percorrem todo o estuário.

Que me perdoem os que se portam condignamente, até porque tenho família do mar e o Palma também, mas a história do " Estamos a trabalhar" é velha, é uma treta e apenas visa desculpabilizar os actos criminosos que estão a cometer.

Faz-me sempre lembrar, há uns anos quando presenciei um assalto a um senhor de idade e parei o carro, persegui e apanhei o rapaz assaltante. Secalhar devia ter deixado estar, o rapaz estava a trabalhar, pobre coitado.

Se não soubermos definir a linha que está entre o razoável e o condenável, mesmo que por vezes o razoável esteja fora da lei, cometemos o risco de rapidamente atingirmos o abismo.

Já não tenho um paciência. Sinceramente. É um argumento vazio, oco, próprio de quem não tem argumentos, de quem vive para si, de quem apenas pensa no seu benefício, mesmo que isso prejudique os outros, mesmo que isso seja equivalente a qualquer outro crime da nossa sociedade.

Não me quero alongar mais, e por isso desta o relato vai só em meu nome, e não dos outros elementos, mas  sabem nem sequer fiquei ou estou stressado com o que vi, ouvi, senti.

Apenas estou pensativo. Provavelmente os que realmente andam a dar cabo das espécies vão se passear anos a fio com estas tretas, e os pescadores desportivos, principalmente os de pesca apeada, qualquer dia nada têm para pescar.

Sem generalizar porque em todas as profissões existem pessoas assim, infelizmente acaba por ser natural, e a pesca está a sofrer com os comportamentos de algumas classes de pescadores.
E enquanto alguns dos que passam mais tempo preocupados com os peixes do vizinho do lado, com a fotografia do robalo xpto do blogue Y ou do forum H, não acordarem para a realidade, mais perto ficamos nós, os lúdicos de ficar com restrições atrás de restrições. Em breve vão se lembrar das minhas palavras. O problema nesta espécie de guerra que existe entre pescadores não está para os lúdicos, nos lúdicos. Está nos que fingem ser lúdicos.

Numa boa, já passou... Vou descansar que o dia foi duro, a pesca foi frustrante, a alma, para evitar quezílias engoliu "sapos" o dia todo. Dentro do possível diverti-me na mesma. Mas não gosto de sentir que a ganância dos outros perturba a minha paz. E não me agrada ver o que se passa por toda a baía do Seixal, Montijo, Barreiro, Zona da Lisnave, Ponte Vasco da Gama.

Não tenho portanto mais para contar, foi apenas mais um dia. Um dia mais triste, não por não termos feito uma boa pescaria, mas mais porque a onda que defendemos e normalmente temos entranhada cá dentro foi claramente posta em causa.

Da próxima será certamente melhor, um abraço e desculpem lá o desabafo, mas é sem qualquer stress, é mais de desilusão.

FilipePC.