Os nossos amigos

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Old School

Boas pessoal,
Boas malta,

São muitas as pescarias de sucesso que nos dão prazer, e que nos fazem elevar o ego.

Talvez muitos duvidem que a mim isso nem sempre chega e sinceramente até o percebo, mas a realidade é que por vezes faço boas pescas e sinto-me pouco pescador, sinto-me mais apanhador de peixe. Outras, mesmo com poucas capturas,  venho extasiado, sentindo que a pesca me proporcionou um dia em pleno.

Durante muitos anos na minha vida fiz alguns tipos de pesca, uns que me deram muito prazer, outros nem por isso. Alguns que me davam, até me deixaram de dar, e outros que nem imaginava vir a gostar, hoje são preferências da minha parte.

Nada me dá mais prazer ainda hoje do que ir todo molhado e "cagado" para casa. Epa é a verdade, é o que sinto. Gosto de ir apanhar o isco, gosto de ficar todo rebentado das costas, gosto de andar de cana na mão a percorrer os buracos, dá-me prazer, e faz-me sentir muito mais pescador.
Nestes tempos que vos falo, longe na minha mente de algum dia estar aqui a escrever fosse o que fosse,  éramos todos pescadores. Havia muito peixe, os pescadores eram muito, mas muito menos. E talvez por isso, todos estavam numa boa, todos se divertiam, todos sorriam.
Talvez fruto disso, esses são os tempos que guardo com mais saudade, e mesmo tentado hoje, manter esse espírito, é a própria vida, que nem sempre o permite.


A vida não pára por "ti" nem pelas tuas vontades e deves tentar dentro do possível te adaptar ao que ela te vai mostrando. Certo ou errado, triste ou feliz, ela percorre o seu  caminho e "tu" és apenas uma ínfima parte da acção, um grão de areia.
Por mim toda a minha vida pescaria desta forma, mas nem eu sei se este sentimento reinará sempre dentro de mim, nem sei se a vida mo permitirá fruto do rolo compressor, que a sociedade moderna se tornou.

O que nos desabituamos de viver, pode em muitos casos se tornar esquecido para nós. Mas normalmente fruto da memória, quando tornamos a viver momentos passados, rapidamente entramos no mesmo papel e conseguimos viver, tudo, com a máxima adrenalina possível.

E podiam me oferecer o maior peixe do rio, que eu não trocava por nada, os momentos em que faço esta pesca. Esta pode ser apenas a minha realidade, mas não deixa de ser uma realidade alternativa. Até porque, enquanto conseguir vou ser pescador, como sempre gostei, como sempre me senti feliz..

À pouco tempo numa conversa com uma pessoa que estimo muito, ele dizia-me que cada vez existiam menos pescadores, que hoje apesar do aumento significativo do número de pescadores, o que existem são muitos apanhadores de peixe. Pescadores, esses estão em extinção! Por vezes penso nisso. Sinceramente ainda vejo muitos pescadores, mas é verdade que comparativamente com o passado a percentagem é muito menor. Não sei se fruto da Internet, que se tem coisas em que ajudou e pode vir a ser muito útil à pesca, também alterou o puro significado que esta modalidade tem.
A internet alterou principalmente o significado da palavra PESCADOR LÚDICO. Não confundam nunca este termo com um grande apanhador de peixe.

Após alguns anos de interregno neste tipo de pesca, perguntei ao Guilherme, ao Filipe João e ao Luís se me queriam acompanhar. Eles acederam. E eu sorri! Imagino o que eles não pensaram durante aquelas horas, mas sei que entenderam o que lhes explico, e sei que perceberam que merece a pena o esforço.

Então vamos lá ao relato...

Pesca combinada para as 5 da manhã, hora em que supostamente o Team teria que estar no local preparado e de canas montadas. Assim foi feito e durante a longa caminha a esperança era enorme.
Não vos peço que entendam o entusiasmo que sinto, peço que o respeitem, é que para mim foi uma pesca OLD SCHOOL, algo que faz parte das minhas vivências. O final da época às douradas era feito por estes dias. Para o ano há mais.



Talvez por isso, e mesmo sabendo que os tempos são outros, que existe menos peixe, e muito mais pescadores, mais do que esperança em apanhar muito peixe, tinha esperança em viver "coisas" que jamais me esquecerei.

Olhava para eles, e lembrava-me das pessoas que comigo fizeram este tipo de pescas. Julgo que por entre aquele calor foram muitas as vezes que vi o Gonçalo, o meu avô, o meu tio Jaime, o Alberto, o Rui, o David, lá, junto a mim. Eles pertencem a um grupo restrito que já fez coisas destas, a um grupo restrito que pelo menos uma vez, soube o que era estar a pesca daquela maneira, e ainda hoje todos nos lembramos disso quando estamos juntos. Éramos um grupo de pescadores fantásticos. Amigos, cumpridores, deixávamos os pesqueiros sempre limpos, e mesmo que nada se apanhasse( o que era raro é verdade), vínhamos para casa sempre numa boa.

Talvez por isso, quando faço este tipo de pescarias, penso sempre se quem comigo está não está a passar mal, ou se está incomodado. É difícil dizer a um amigo, queres ir a pesca de terra em que te vais molhar todo, passar calor, ficar cheio de dores nas costas e ainda podes nada apanhar! Lololol. Não, não é fácil.

Felizmente pareceu-me que eles curtiram. Foi diferente.

Devido às características do local e ao facto de se necessitar de efectuar bons lançamentos,  são poucas as montagens que ali funcionam. A escolha de uma chumbada de pêra, e posteriormente um anzol até 1 metro de estralho ou então dois anzois com cerca de 50 cm. são o ideal. O isco mais produtivo é o ganso nacional, mas o casulo e a minhoca funcionam bem.

Quando chegámos estava o dia a clarear e estava cheio de pica e esperança em apanhar uma boa pescaria, e assim que começou a pesca fiquei algo desiludido pelo facto de não sentir nada pois sei que ali costuma bater peixe naquela hora.

O dia clareou e sentimos os 1´s toques, pequenos e sem grande emoção... Após alguns toques sem sucesso, ferrei o 1 peixe, um pequeno robalo, devolvido de pronto.

A maré começou a ganhar metros e lentamente começámos a sentir mais toques, sempre pequenos e o Guilherme tira uma dourada ali no limite legal, que devolvemos. Fiquei ainda mais apreensivo. Quando anda lá aqueles peixes, costumam ser aos cardumes e eu procurava algo maior, pelo menos que me deixassem satisfeito.

Após cerca de uma hora de pesca ainda nem um peixe tinha na rede, e comecei a pensar que só andasse peixe muito pequeno por lá. A esperança residia no facto de ter preparado tudo para fazer uma pesca que dá muitos resultados, uma pesca old school, somente ao alcance dos duros.
Pescar 8 horas de mochila de surfcasting às costas com água na cintura, acreditem que não é mesmo para todos.

Muita atenção  aos pescadores neste vídeo e entendem o que foi a pesca!



Já pensava dentro de mim que me iam rogar as pragas todas, se não me apanhasse nada, e a coisa estava preta, pois tirando a magnífica disposição que todos tinham, a pesca estava mesmo muito fraca, com pouco peixe capturado, e todo para devolver.



Vendo a maré a chegar a um spot que eu sei que é a 2ª hipótese de sucesso, decidi ir para lá e chamei o pessoal.
Em minutos o peixe, a vir com a maré começou a dar sinal e levámos as 1ªs pancadas de qualidade. Os 1ºs venceram a batalha e desferraram, fruto da pouca água e da facilidade com que conseguem produzir forças que nem eles sabem que têm. Nós é que agradecemos, o apanhar ou não, faz parte do jogo.

Em pouco tempo ferrei o 1, que veio a revelar ser um robalo engraçado. De seguida, mais uma ferragem, e desta a luta era outra. Marrada para a direita e para a esquerda, marrada para baixo, só podia ser a primeira dourada do dia para guardar... Ao chegar a terra a alegria de todos era enorme, e durante cerca de uma hora, tirámos algumas de bom porte, e perdemos outras... Estavam a ferrar muito mal, e chegámos a baixar muito o diâmetro do estralho a ver se elas atacavam melhor.

A maré foi subindo e a saca estava cada vez mais composta, já dava para rir e gozar ainda mais e com mais vontade. Eu é que já tinha as costas rebentadas, mas as saudades eram tantas que a dor era substituída pela vontade em pescar mais uma dourada, e mais uma dourada. Bem não é tanto o pescar, é mesmo o sentir aquela luta maravilhosa.


As minhas costas serviram de bancada, e devia ter filmado o pessoal a comer e a escolher o isco em cima da minha mala comigo de água na cintura.

Ainda deu para filmar algumas libertações de alguns exemplares que um dia esperemos encontrar... eheheh.

Quem não nos largou o dia todo foram as malvadas das alforrecas que nos obrigavam a estar sempre a desviar e fugir delas. O Mar está cheio delas, que praga...



A maré entretanto virara e sabia que ali podia dar mais qualquer coisa, e naquele bocado apanhou-se mais outro robalo jeitoso, e dois sargos, um deles muito bom. Não costumam aparecer tão grandes ali.

Entre muito peixe que soltámos, lá fomos compondo a coisa e todos ficaram felizes, pois todos trouxeram bom peixe para casa.


Já com a maré quase vazia o Luís parou com dores nas costas, e eu continuei a "sugar" cada minuto daquela pescaria. As pernas mandavam parar, as costas "gritavam comigo de dor, mas a alma, pedia para continuar e fui até ao fim... Valeu ainda para tirar mais duas douradas, se perder outra boa no caminho e ter o maior toque do dia que não ficou, um que me levou a ponteira da cana a ficar segundos em tensão... Danada a bicha...



A pesca estava feita, era altura de baixar as canas e voltar a casa. Entre momentos que para mim são e foram especiais, foi optimo estar com dois colegas de quem muito gosto, e com o meu companheiro de sempre o Filipe João.



A eles um abraço muito grande, obrigado pela partilha, e espero que seja até breve...



Material:
Canas: Hiro Super Balística, Hiro Long Distance, Hiro CTS F1e F2
Carretos: Shimano Nexave FA 6000; Shimano Ultegra xsb 5500; Tica Scepter; Banax Poseidon
Linhas: Asso ultra Fluoro Light; Asso Ultra Low Strech; Climax Fluorocarbono
Iscos: Ganso nacional, casulo, caranguejo


Filipepc, Filipe João, Guilherme, Luís Passeiro

4 comentários:

Manuel Oliveira disse...

Essa pesca, é das boas, daquelas que arrebentam connonsco, mas se não for assim não dá prazer e pelo menos tiveste num spot paradisíaco, sem ninguém por perto a chatear.

Para a próxima tens que levar um pato ou kayak, assim sempre tens um sport para pousar o material. :)

Abraço

Sergio Fernandes disse...

ó Filipe
Das tua escrita sentimos e vivemos toda a jornada de pesca
é um prazer ler os teus relatos
continua
abraço

Os Pescas disse...

Gostei do relato, realmente temos locais muito bons para pescar perto de casa. A forma como iniciou o relato lembra-me um sentimento vivido algumas vezes e voltou a acontecer recentemente. Bem o certo é que sempre que vais ao teu pesqueiro apanhas sempre umas Douradas, ehehehe se precisares de Titas avisa.

Abraço,
Nuno

Pedro Franco disse...

Boas a todos,
Old school power forever!!!
Pescarias de arrebentar o canastro e andar dentro de agua a pescar o dia inteiro é comigo, é mesmo assim, está entranhado em mim não consigo pescar doutra maneira, quer dizer, consigo mas o prazer não é igual, chegar ao fim do dia encharcado, a cheirar a sardinha e todo arrebentado por fazer grandes caminhadas em busca de alguns peixes é que é!!!
Grande relato e uma pescaria diferente e ao mesmo tempo engraçada, parabéns.
Abraços a todos